Resenha do livro:Bases Antroposóficas da Metodologia Biográfica (Gudrun Burkhard)
- Lorena Lamas
- 15 de jun. de 2023
- 29 min de leitura
Atualizado: 16 de out. de 2024
Nota antes de você ler: A cada dois meses, mais ou menos, venho atualizar o post com um novo capítulo.
Resumos de 7/13 capítulos (02/05/2024). Para encontrar algo, use a lupa do blog.
Obrigada e boa leitura!
Lorena

Metodologia Biográfica, por Gudrun Burkhard
CAPÍTULO 1 - O ocultismo higiênico e a nova faculdade a ser desenvolvida
Há pouco mais de um século, Rudolf Steiner, anunciou em uma de suas palestras, o surgimento de novas faculdades, que seriam importantíssimas para o desenvolvimento da humanidade.
Nesta palestra, Steiner falou de três novas faculdades, emergindo em diferentes lugares do planeta, de diferentes povos.
São elas: ocultismo material, ocultismo eugenético e ocultismo higiênico.
Ocultismo Material ou Mecânico | Ocultismo Eugenético | Ocultismo Higiênico |
Energia humana que é substituída pela energia mecânica - toda a tecnologia desenvolvida nos últimos 100 anos comprova isso… Máquinas e automações que fazem o trabalho que antes era feito por pessoas. | Retirada da reprodução humana do livre arbítrio e do acaso. Se dará por meio de um instintivo saber clarividente onde será possível arranjar a concepção em uníssono a certas constelações estelares, facilitando a encarnação terrestre de almas boas e ruins. | A vida humana transcorre como um processo idêntico ao processo patológico. Nós temos forças patogênicas e também forças sanativas (do corpo vital). Acessando as forças sanativas, que é inata no ser humano, transformamos em conhecimento e resulta em conhecimento oculto. |
Desenvolvida em populações de lingua inglesa ; Ocidente | Desenvolvida no Oriente e Àsia; (Rússia, Índia) | Países Centrais |
Nasce - com o ocultismo material Adquire / Aprende - ocultismo higiênico | Nasce - com o ocultismo eugenético Adquire / Aprende - o ocultismo higiênico Recebe os produtos - do ocultismo material | Nasce - com o ocultismo higiênico Adquire / Aprende - ocultismo material e eugenético |
Estas três faculdades não se espalharão uniformemente sobre a Terra, porém, irão se entrelaçar, e é desta trama que dependerá o futuro laço de comunidade da humanidade.
No contexto de biografia nos interessa o ocultismo higiênico.
Os primeiros trabalhos biográficos começaram na Inglaterra e paralelamente no Brasil. Os primeiros cursos biográficos datam de 1975, baseados no livro Fases da Vida, do professor Bernard Lievegoed.
"O ser humano, que tem sua própria biografia, pode torná-la instrumento de cognição da biografia do outro".
A Dra. Gudrun nos explica que o terapeuta biográfico precisa ter trabalhado a sua própria biografia dos mais variados pontos de vista, para que possa estar capacitado a facilitar o processo de biografia de outras pessoas. O aconselhador biográfico conduz o caminho psíquico que age profilaticamente, caminho ao qual Steiner se referia.
Assim como os adultos podem trabalhar sua biografia como forma de acessar o ocultismo higiênico, as crianças podem participar de uma pedagogia adequada. Desta forma, com pedagogia adequada e trabalho biográfico, prevenir e até curar diversas doenças, desde a infância até a velhice. Doenças por carma estão excluídas destes processos curativos.
As forças sanativas que carregamos são as forças do corpo vital. E este, por meio da auto educação, pode tornar-se um novo orgão perceptivo, capaz de abarcar as forças crísticas que temos na Terra desde 2 mil anos atrás, e transformar essas forças crísticas em forças curativas.
As pessoas no geral, mas principalmente o terapeuta biográfico, precisa se auto-conhecer, para que possa se amar, e se amando possa amar o outro. E para tanto é necessário estudar muito sua própria biografia - passado e presente. E buscar direcionar a vida para um futuro mais sadio. Como? Ao conhecer as leias biográficas conhecemos as leis da doença, e fazendo esta relação, podemos chegar na prevenção e cura.
As crises da vida, quando chegam ao corpo físico, em forma de doença, nos fazem pensar sobre o que estamos "fazendo da vida". Este momento de questionamento é de grande oportunidade para o nosso desenvolvimento, especialmente quando é tratado adequadamente e não abafado.
"A biografia é uma doença prolongada, e a doença é uma biográfia condensada."
CAPÍTULO 2 - A história da evolução da consciência humana e as épocas culturais
Neste segundo capítulo, a Dra Gudrun traz a cosmovisão de Rudolf Steiner, apresentando de forma resumida e didática a origem e a evolução da Terra e do ser humano, dos primórdios até a nossa época atual.
A evolução é um processo contínuo de criação, crescimento, metamorfose e desenvolvimento.
A evolução cósmica da Terra e dos seres humanos se deu da seguinte forma: foram 4 encarnações até a atual, 5 eras e 5 épocas culturais.
Encarnações da Terra
A primeira encarnação foi chamada de Saturno; e quem atuou foram os Espíritos da Vontade, os Tronos, doando CALOR; Primórdios do CORPO FÍSICO. Tudo era uma unidade.
A segunda encarnação foi chamada de Antigo Sol; e quem atuou foram os Espíritos da Sabedoria, os Kryotetes, doando sua substância VITAL, primórdios da vida; Primórdios do CORPO VITAL(etérico). Separação de luz e trevas.
A terceira encarnação foi chamada de Antiga Lua; atuaram os Espíritos do Movimento, os Dynamis doaram MOVIMENTO; Primórdios do CORPO ASTRAL. Separação sons.
Na quarta encarnação formou-se a Terra propriamente dita; O carbono se formou (mineral); Os Espíritos da Forma, os Exusiai doaram seu ÉTER VITAL PARA ORGANIZAR O EU DO SER HUMANO, individual, o Eu Superior, e ao qual uma centelha divina pode ligar-se.
Entre cada encarnação tudo se desmanchou e se espiritualizou, e depois de cada pralaya (lacunas de tempo entre uma fase e outra), cada fase se repete: época polar (Saturno), época hiperbórea ( Antigo Sol) - Sol separa-se da Terra, época lemúrica (Antiga Lua) - Lua separa-se da Terra, e época atlântica, onde ocorreu um novo impulso devido a incorporação do EU, provocando a transformação dos outros corpos - astral, vital e físico. Foi nesta época que o homem adquiriu uma configuração semelhante à do ser humano atual.
Importante ressaltar que na época lemúrica, nós nos desvinculamos do espiritual, passando a existir de forma separada, pelo adensamento físico da Terra e do nosso corpo físico. Foi também nessa época que houve a separação dos sexos e reprodução que era por partenogênese começou a ser por frutificação externa. Os polos reprodutores e cerebral se desenvolveram simultaneamente e o ser humano passou a ter duas principas buscas: a de reprodução sexual e de conhecimento do mundo e auto-conhecimento.
Porém, foi somente na época atlântica, que a individualidade do ser humano, sua parte anímico-espiritual, se ligou à parte físico-biológica a ponto de tornar este corpo físico e biológico semelhante ao que temos hoje. Assim, o homem perdeu a antiga clarividência e ligação natural com o mundo espiritual e começou a desenvolver o cérebro e o pensamento.
Após o grande Dilúvio - catástrofe da época atlântica - iniciaram-se as épocas pós-atlânticas. Atualmente estamos na época germânica ou anglo saxônica (que começou em 1413 d.c), regida pela constelação de Peixes, o que caracteriza esta etapa da evolução da Terra e da humanidade é o lento desenvolvimento da consciência humana.
Épocas Culturais
Para explicar o tempo de cada época cultural: o Sol leva cerca de 25920 anos para passar por todos os signos do zodíaco, ficando cerca de 2160 anos em cada um. Atualmente o Sol está em Peixes e ficará até o ano 3573 d.c. Cada época cultural, então, sofre a influência do signo correspondente onde o Sol está.
1) Hindu - Câncer - 7227 AC - 5067 AC
na cultura hindu a consciência humana ainda estava voltada para o interior;
o corpo etérico irradiava uma aura que podia ser vista para fora do corpo físico, ultrapassando os limites da cabeça física;
aprimoramos nosso corpo vital, íntima relação com as plantas;
na biografia humana, essa época corresponde ao segundo setênio (7-14 anos), quando o ser humano constrói um corpo vital próprio, separado do corpo vital da mãe.
2) Persa - Gêmeos - 5067 AC - 2907 AC
ser humano se confronta com a dualidade do seu ser;
esta dualidade da alma é experimentada pelo adolescente durante o nascimento do seu corpo astral, a partir dos 14 anos;
luz e sombra do corpo astral;
meditação sobre a força do trigo - que rompe a escuridão da Terra em direção ao sol, estrelas, cosmos;
agricultura sofreu grande impulso;
forças da escuridão eram denominadas arimânicas.
3) Egipto Caldáica - Touro - 2907 AC - 747 AC
perda maior do contato natural com o mundo espiritual e com o Cosmos;
época da alma da sensação, corresponde a biografia dos 21 aos 28 anos - período que cuidamos da nossa alma e tentamos equilibrar o pensar, sentir e agir;
grande percepção sensorial do mundo;
vivência do corpo físico era importante;
época responsável pelo materialismo que até hoje vemos na humanidade (mumificação, tumbas, pirâmides, a condição do faraó).
4) Greco-Romana - Áries - 747 AC - 1413 DC
entrosamento da parte anímico-espiritual do ser humano com seu corpo;
surgimento da arte e da filosofia, teatro, jogos olímpicos;
alma da razão/intelecto, corresponde dos 28 aos 35 anos na nossa biografia;
anos crísticos - fase da vida onde morte e ressurreição acontecem. algumas coisas morrem para novas surgirem;
homem passou a ser responsável por toda a evolução, não só da Terra, mas também do Cosmos e de todos os seres humanos e espirituais;
conquista de liberdade com responsabilidade;
a orientação vem de dentro, para fora. cada eu individual pode ser desenvolver e evoluir por si só.
5) Germânica ou Anglo Saxônica - Peixes - 1413 DC - 3573 DC
o pentagrama tornou-se símbolo do ser humano;
ligação com espiritual perdendo-se cada vez mais;
ciência substituindo a religião;
soberania da tecnologia e do dinheiro;
soberania do ter e não do ser;
destruição da natureza;
massificação de tudo;
época da alma da consciência, dos 35 aos 42 anos
A quinta época cultural é a nossa atualidade. E podemos ver como o homem está muito informado, com o domínio dos meios de comunicação, porém, seu vazio interior aumentou. O homem tem poder sobre a materialidade, as descobertas tecnológicas. Vivemos uma soberania da tecnologia e do dinheiro. É preciso lutar para sobreviver. Os desastres ecológicos e a destruição da Terra são quase incontroláveis. O ser humano está com medo e se sente impotente para agir.
Na nossa biografia esta crise aparece entre os 35 e os 42 anos, época da alma da consciência. Nesse momento nosso corpo físico começa a decair, a envelhecer e se enrijecer, porém, temos a oportunidade de ampliar nossa consciência e realizar mudanças de valores, ter clareza de nossa missão de vida e abrir-nos mais para o "ser" e não para o "ter".
É interessante e importante observar que durante a época greco-romana, desenvolvemos, como humanidade, a alma da razão/intelecto, que tem a ver com o pensamento lógico/linear e está ligado ao lado esquerdo do cérebro. E agora, na época da alma da consciência, nós temos como tarefa integrar e ampliar esse pensamento lógico ao lado direito do cérebro, para que possamos, novamente, nos tornar criativos interiormente, capacitando-nos para superar as forças da matéria, desenvolvendo forças espirituais que nos levem ao encontro de nosso Eu superior, de nosso verdadeiro cerne espiritual.
Em nossa biografia individual, neste momento temporal, nos ADIANTAMOS, em relação ao desenvolvimento da humanidade como um todo. Precisamos integrar as partes espiritual, anímico-psicológica e material. Rudolf Steiner dá sua contribuição à humanidade, trazendo na Antroposofia, a união de Filosofia, Religião e Ciência. Steiner mostra que o pensamento lógico/racional pode ser ampliado por meio da autoeducação para uma cognição imaginativa, inspirativa e intuitiva. Hoje em dia, cada ser humano pode construir seu próprio templo interno e buscar vivências de amor e da força crística, para que evoluindo espiritualmente, encontre seus semelhantes de forma fraternal - tarefa que será completa da na próxima época cultural, a sexta época.
Ou seja, nos adiantamos, pois cada um de nós precisa trabalhar conscientemente esta evolução e essas integrações, a fim de contribuir para a evolução da humanidade como um todo.
Na biografia da humanidade, neste ponto temporal, como indivíduos, ANTECIPAMOS o desenvolvimento da humanidade como um todo, pois as fases de nossa biografia desenvolvem-se agora de forma germinativa:
42 e 49 anos, germe da personalidade espiritual; a humanidade desenvolve isso na sexta época cultural.
49 aos 56 anos, germe do espírito vital; a humanidade desenvolve isso na sétima época cultural.
56 aos 63 anos, germe do homem-espírito; a humanidade desenvolve isso somente na próxima encarnação da Terra, na fase de Júpiter.
Fica antecipado, pois vai acontecer com cada indivíduo que vive nesta época (quinta época pós-atlântica), antes de acontecer nas próximas épocas. Nós estamos colocando este germe na humanidade através de nossa atuação na vida, hoje.
Em palestra de 5.6.1917 Steiner trouxe o seguinte:
"O desenvolvimento anímico-espiritual é ligado ao desenvolvimento físico-fisiológico, mas em determinada idade esse paralelismo [...] deixa de existir. O anímico-espiritual passa a desenvolver-se independentemente do físico-fisiológico.
Atualmente essa desconexão entre anímico-espiritual e físico-fisiológico acontece com 27 anos de idade. Então, quinta época cultural - germânica / anglo-saxônica, acontece com 27 anos.
Lá na antiguidade, na época hindu, acontecia com 56 anos; Época persa entre 48 e 42 anos; Época egípcia, 35 anos de idade; Época greco-romana, entre 28 e 35 anos de idade;
Importante ressaltar que durante a quarta época, a greco-romana, acontece a morte e ressureição de Cristo. Cristo atinge os 33 anos, exatamente a mesma idade da retirada do desenvolvimento anímico-espiritual dos corpos físicos naquela época. Através do Mistério do Gólgota a humanidade é levada ao conhecimento da imortalidade justamente quando se torna mais desconectada do espiritual. Logo, Cristo, se coloca em todo o desenvolvimento da humanidade. Esse é um dos aspectos grandiosos da vinda de Cristo, que vive em Jesus dos 30 aos 33 anos de idade.
Hoje, a desconexão com o desenvolvimento espiritual está nos 27 anos, mas ao final de nossa época cultural atual, estaremos nos 21 anos. Aqui é que entra a Ciência Espiritual: para apoiar o desenvolvimento anímico-espiritual que o corpo não sustenta mais. E isso se dará através do corpo etérico; Atualmente nossa constituição está organizada para o ateísmo e o materialismo, pois não conseguimos mais perceber e sentir a conexão entre nosso corpo físico e nossa alma.
No futuro estaremos cada vez mais pobres de conceitos, pois nossa organização corporal nos impedirá de ver a realidade, caso não escolhamos um caminho de cognição espiritual. Nosso cérebro ficará mineralizado, não conseguindo formar conceitos que possam mergulhar nas realidades.
Na sexta época cultural teríamos a fase dos 14 aos 21 anos. "Se as pessoas colocadas tão cedo em liberdade não buscarem as fontes espirituais aos 30, 40, 50 anos de idade, elas terão sempre a maturidade dos 17,16, 15 anos de idade. Quanto mais a evolução progride, mais o progresso da humanidade é colocado nas mãos dela própria."
Steiner expressa grande preocupação com uma epidemia de esquizofrenia nessa época futura, caso a humanidade não consiga desenvolver as tarefas de autoconhecimento e autoeducação espiritual propostas pela Ciência Espiritual.
Após a leitura desta transcrição da palestra de Steiner, a Dra Gudrun nos traz pra reflexão com a pergunta: com que idade estagnamos em nosso desenvolvimento?
"Muitas vezes o passado, estagnado, tem de ser retomado e posto em movimento", coloca a Dra. Gudrun.
Em outra palestra de Steiner, de 25.12.1918, ele explica as ideias de igualdade, liberdade e fraternidade por ele propostas, e também sobre a influência do Mistério de Gólgota no desenvolvimento da humanidade.
Primeiramente Steiner coloca que o ser humano só pode ser visto de forma correta se for observado em todo o seu curso de vida, ou seja, precisamos levar em consideração todo o desenvolvimento temporal entre no nascimento e a morte. Ele também explica que as forças luciféricas atuam na primeira metade da vida e as forças arimânicas na segunda metade da vida.
Igualdade:
Quando nascemos temos um impulso de igualdade. Todos nascemos iguais e ao longo da vida vamos nos diferenciando.
Liberdade:
O impulso de liberdade vai crescendo e se desenvolvendo ao longo da vida, e seu ápice é no momento de nossa morte.
Fraternidade:
O impulso da fraternidade tem seu pico no meio da vida. Seu curso cresce e depois decresce. Temos uma disposição maior para a fraternidade justamente no momento em que ocorre a desconexão do nosso corpo físico das forças anímico-espirituais.
Steiner então, propõe uma reflexão, cruzando as informações de sua palestra sobre o rejuvenescimento da humanidade - em função da idade em que nossas forças anímico-espirituais são cortadas atualmente (27 anos), com o acontecimento do Mistério do Gólgota.
O Mistério do Gólgota nos deu o conhecimento e a capacidade de podermos acolher conscientemente os impulsos de Cristo, e com isso, sermos radiante de juventude até na velhice. A partir desses impulsos crísticos que desenvolvemos a fraternidade, no meio de nossa vida.
O impulso de Cristo é o incentivo direto para a fraternidade, e Cristo é também, essencialmente, o líder da humanidade moderna para a liberdade.
"Devemos saber como o ser humano emerge do mundo espiritual com a igualdade - algo que lhe é dado e que é, de certo modo, oriundo do Deus-Pai. Porém a culminação da fraternidade não pode entrar de forma correta na evolução da humanidade senão com a ajuda do Filho e por meio do Cristo unido ao Espírito, assim como o desenvolvimento do impulso da liberdade em direção à morte."
CAPÍTULO 3 - O caminho biográfico como caminho de iniciação e de autodesenvolvimento
A Dra Gudrun inicia o terceiro capítulo trazendo o conceito da Calma Interior aboradado por Rudolf Steiner no livro O conhecimento dos mundos superiores.
Esta calma interior de que Steiner nos fala nada mais é do que a meditação, que deve ser praticada séria e rigorosamente.
Quem está em busca dos conhecimentos superiores precisa dedicar-se, através da meditação, a separar o essencial do acessório; essa seria uma das primeiras regras.
Tudo que se pensa e sente, e também seus atos, deve passar em revista pela alma,
devemos observar tudo que nos ocorre, tal qual observamos, de fora, a vida do outro. Assumir uma posição de quem não está entretecido nas experiências
"O que devemos aspirar nos momentos de recolhimento é, pois, contemplar e julgar nossas próprias vivências e ações como se essas não houvessem sido vivenciadas ou feitas por nós próprios, mas uma outra pessoa." p. 25
Quando conseguimos olhar para a nossa vida com a calma interior, como se fossemos um juiz imparcial, conseguimos separar o essencial do acessório. Tal qual constantemente fazemos ao obervar a vida alheia. Pois quando estamos misturados na situação, damos o mesmo peso para o essencial e o acessório.
A capacidade de encontrar a calma interior e nutrir esta vida interior, onde nos confrontamos consigo mesmos, faz com que consigamos desenvolver um "homem interior superior", que domina nossa vida interna e também dirige e guia a vida externa. Estamos sempre sofrendo pressões da vida externa, e com o homem interior soberano, estas pressões não vão nos abalar, nos distrair, ou nos tirar do curso que queremos seguir, não nos dominarão. Ao contrário: estaremos evoluindo e protegendo aquilo que desejamos para nossa vida com o cultivo do soberano interior.
Quando se trata de analisar nossa biografia este é exatamente o método a ser utilizado por nós diante dos fatos vivenciados: olhar pra esses fatos de fora, como se eles não fossem da nossa vida, desta forma conseguimos nos separar do fato e ter uma visão mais imparcial.
Maneiras práticas de fazer isso na metodologia biográfica:
Objetivando a biografia: exercício que consiste em escolher uma cena da vida pra objetivar. Importante localizar esta cena no tempo - dia, mês e ano, e no espaço - local onde ocorreu. Este exercício pode ser feito sozinho com o terapeuta ou em grupo. A ideia é descrever nos mínimos detalhes tudo sobre esta cena, tudo o que ocorreu, e também detalhes como sua idade, sua aparência física, suas roupas, onde estava, como era o lugar, detalhes de móveis ou do espaço onde a cena aconteceu, do ambiente em si, e também das pessoas que estavam na cena, e das ações que estavam acontecendo. Depois é necessário lembrar-se dos sentimentos vividos na cena. Porém, lembrando da calma interior, não devemos nos misturar nesses sentimentos. Somente observar. Na sequência é importante descrever as circunstâncias que o levaram àquela situação e as consequência dela em sua vida. Para aprofundar a compreensão sobre a circunstância vivida, pode-se pintar ou modelar esta cena em argila. O terapeuta ou colegas do grupo podem observar o traballho de pintura ou modelagem e relatarem o que observam, sem interpretações. A Dra Gudrun sugere as seguintes perguntas diante do trabalho com a cena: "Será que esta cena é arquetípica para este setênio ou é única, só minha?", "Esta cena se repete em minha vida ou foi um momento único?".
A outra forma de fazer este trabalho seria fazendo um panorama, resgatando uma visão geral da biografia. Ou de forma retrospectiva, do presente pro passado, passando por cada setênio, ou a partir da primeira lembrança até o presente, passado pelos setênios. Os acontecimentos precisam ser registrados, na idade em que aconteceram e também que sentimentos foram sentidos. Tem duas formas de fazer isso, num diagrama vertical, ou horizontal. Segue os exemplos:
Esquema Vertical:
Eventos Sentimentos 0 7 14 21 E assim por diante…No formato vertical podemos ver os espelhamento
Esquema Horizontal:
0 7 14 21 Locais Doenças Religiões/Filosofias Atividades Encontros
E assim por diante…
No formato horizontal fica fácil de identificar onde começam e onde terminam certos impulsos.
Para ajudar na visão panorâmica, é importante pintar as paisagens, os locais da vida, e depois colocar plantas nessa pintura, representando as pessoas, cada planta com características especiais para representar diferentes pessoas. E finalmente podemos nos colocar na pintura junto com as atividades que desempenhamos ao longo do tempo. Por meio deste processo vamos ter uma visão global da paisagem da vida e como ela se transformou ao longo do tempo.
Forças Sociais e Antissociais - dois exercícios biográficos
A Dra. Gudrun traz uma palestra de Steiner, de 12.12.1918, intitulada Impulsos Sociais e Antissociais, na qual é proposto dois exercícios biográficos muito importantes e que são utilizados por terapeutas biográficos para a objetivação da biografia. Estes exercícios são indicados, pois, na atualidade, a humanidades está um tanto antissocial, e para poder equilibrar isso, podemos desenvolver nossas forças sociais.
Primeiro exercício:
É necessario sistematicamente colocar o social ao lado do antissocial. Ao realizar uma retrospectiva de nossa vida e ao pensar em todas as pessoas que passaram por nós, de forma positiva ou negativa, não devemos nos colocar no centro, e sim, pensar no que as pessoas fizeram ao nosso lado, quase que esquecendo de nós mesmos. Dessa forma poderemos ver que quase tudo que somos não existiria sem intervenção e influência de certas pessoas. Ficará evidente que a substância anímica de nossa vida é absorvida pelo que tem influência sobre nós.
Nós somos o produto de outras pessoas. Precisamos agradecer por estes encontros e interações. Devemos fazer isso tanto retrospectivamente, olhando pro passado, como quando estamos convivendo com pessoas na atualidade, no presente.
O impulso social é podermos criar uma imagem das pessoas baseadas em suas qualidades e não baseada em nossos sentimentos. Devemos criar uma imagem das pessoas que é isenta de amor, ódio, simpatia, antipatia. O impulso antissocial é o oposto, e é o que predomina atualmente nas relações. Este exercício ajuda a gente a objetivar nossas experiências.
Segundo Exercício:
Novamente aparece a objetivação. Desta vez a nossa própria. É muito importante que a gente consiga se objetivar, tanto no passado, fazendo retrospectivas, quando no presente.Devemos ser capazes de nos enxergar como não sendo nós mesmos,nos esforçando ao máximo para objetivar-nos. Nossa objetivação proporciona desenvolvermos a imaginação de nós mesmos. Não devemos ser as vivências! Nosso eu não pode ficar atado às vivências. O exercício aqui é praticar as retrospectivas com o esforço de objetivação. Podemos escolher um evento pra cada setênio ou listando eventos principais ao longo da vida.
"Desprender-se do próprio passado não significa negá-lo; significa recuperá-lo de outra maneira, o que, não obstante, é algo imensamente importante. " Rudolf Steiner
CAPÍTULO 4 - A biografia de Charles Chaplin: um exemplo de montagem biográfica
Não tem resumo deste capítulo
CAPÍTULO 5 - Os membros suprassensíveis do homem e seus consecutivos nascimentos nos três primeiros setênios
No quinto capítulo, a Dra Gudrun toma como base o livro A educação da criança segundo a Ciência Espiritual, de Rudolf Steiner. Primeiro Setênio:
A Dra Gudrun ressalta como é relevante para a formação do ser humano o brincar. Esse brincar reflete no trabalho da vida adulta. Segundo Steiner, "todos os brinquedos que possuem apenas formas mortas e matemáticas ressecam e destroem as forças plasmadoras da criança, enquanto tudo o que suscita a vida atua de maneira sadia [...]".
No primeiro setênio, do 0 aos 7 anos, o corpo físico é que vai se desenvolver, e a alegria e o prazer, e também o verdadeiro amor, são as forças que melhor plasmam os orgão físicos. Ou seja, no ambiente no qual a criança está sendo criada, tais atitudes e sentimentos, criam essa atmosfera com boas qualidades plasmadoras do corpo físico. A criança também aprende tudo por imitação nessa fase. E é ouvindo que a criança aprende a falar.
A tônica deste primeiro setênio: o mundo é bom.
Segundo Setênio:
No primeiro setênio desenvolvemos o nosso corpo físico, no segundo setênio vamos desenvolver o corpo etérico.
No segundo setênio, dos 7 aos 14 anos, acontece uma transformação física bem marcante, logo por volta dos 7 anos, que é a troca da dentição, e nesse evento o corpo etérico se liberta de seu envoltório etérico.
A partir desse momento, que o corpo etérico nasce, é possível exercer uma pedagogia externa no ser humano. A criança fica pronta para a escola, por exemplo.
Para o ser humano em desenvolvimento chega o temperamento, e também a memória, os hábitos, as inclinações; E o que atua sobre o corpo etérico são imagens, exemplos e uma orientação disciplinada da fantasia. Nada de conceitos abstratos. É muito importante que nessa fase a criança possa ter alguém para olhar com ilimitada veneração.
"O rumo Espiritual do jovem deve ser determinado pelas grandes figuras da história, pela descrição de homens e mulheres modelares e não por princípios abstratos de moral", explica Steiner.
Nesta fase, temos o desenvolvimento da memória que está ligada a transformação do corpo etérico, que ocorre entre a troca dos dentes e a puberdade. Neste momento devemos cuidar conscientemente do desenvolvimento da memória. O jovem precisa aprender para o cultivo da memória e só mais tarde deverá entender intelectualmente aquilo que memorizou. O intelecto é uma força anímica que nasce apenas com a puberdade, portanto no segundo setênio devemos trabalhar para a memorização de todo aprendizado.
É muito importante cultivar o sentido do Belo e despertar a sensibilidade artística, a alegria de viver , o amor pela existência a força para o trabalho. O corpo etérico, no segundo setênio, nos dá a possibilidade de desenvolver a cognição imaginativa. Ou seja , a visão global dos fenômenos transformadas em uma grande imagem. A tônica do segundo setênio: o mundo é belo.
Terceiro Setênio
No terceiro setênio, dos 14 aos 21 anos, temos o nascimento do nosso corpo astral. Com a puberdade, o jovem também está mais maduro para julgar e formar um juízo daquilo que aprendeu nos anos anteriores. É de grande prejuízo para o ser humano, quando seu juízo é despertado prematuramente. Pois a tendência é de que não tenham fundamento. De qualquer forma, pra se ter maturidade mental é preciso ter respeito pelo o que outros já pensaram antes. O adolescente deve primeiro aprender, para depois julgar. Primeiro sentir e vivênciar, e depois pensar.
Os jovens devem colocar no mundo o que tem dentro de si - ideais, esperanças, desejos - e para tanto precisam da ajuda e orientação de adultos. É muito importante que os jovens percebam que os adultos ao seu redor sejam autênticos, verdadeiros, para que este trabalho de orientação seja aceito e respeitado pelos jovens.
A tônica do terceiro setênio: o mundo é verdadeiro.
CAPÍTULO 6 - O amadurecimento anímico e o espelhamento dos 21 anos
No sexto capítulo, a Dra Gudrun traz uma palestra de Steiner, de 29.10.1909, que trata sobre o caráter humano, sono e vigília, para que possamos compreender o espelhamento anímico.
Durante nosso sono e vigília é que transformamos experiências em faculdades, em competências.
O caráter humano é a manifestação de nossa essência interior no exterior, na realidade concreta.
A alma humana se divide em três membros: a alma da sensação,a alma da razão, e a alma da consciência. O "Eu" humano torna a alma uma unidade, juntando estes 3 membros, pois ele é o portador da autoconsciência do homem. A harmonia ou desarmonia entre estas 3 partes da alma formam a base do nosso caráter.
Quando dormimos, o corpo físico e o vital repousam, e o corpo astral e o espiritual vão para o mundo espiritual. Tudo aquilo que sentimos no nosso corpo astral, nossas paixões, prazeres, medos, sofrimento, sensações, impulsos, representações, percepções, ideias e ideais, passam a um estado de inconsciência.
Durante o estado de sono, o corpo astral e o eu estão com toda a sua essência no mundo espiritual. Tudo aquilo que vivenciamos no nosso corpo astral precisa ser levado para o sono, para que então no outro dia, quando acordamos, seja espelhado no nosso corpo físico e no nosso corpo etérico. Pois é dessa forma que nós vamos processar as nossas vivências interiores: então eu durmo, e ao dormir o meu corpo astral e o meu eu ficam inconscientes (minhas experiências internas ficam inconscientes) e ao acordar essas minhas experiências são espelhadas no meu corpo físico e no meu corpo etérico.
No sono conseguimos reparar as forças que usamos durante a vida diurna. Na vida diurna podemos desdobrar nossa energia, para estar atuante na vida, mas somente durante o sono podemos recuperar a energia gasta. E no sono, nossas experiências são refundidas e elaboradas pela alma, para que de fato possamos desenvolver competências e faculdades.
Ou seja, o sono tem no mínimo duas funções muito relevantes para a vida: repor energias físicas e vitais e consolidar experiências em faculdades.
Steiner diz: "As experiências passadas têm de unir-se à nossa alma, têm de ser elaboradas por ela, têm de refundir-se para poder ser transformadas em capacidade. Todo esse processo é realizado pela alma no estado de sono.
A única barreira que temos para o nosso desenvolvimento pleno, de todos os nossos corpos integrantes, é nosso corpo físico e etérico, pois estes não conseguimos alterar através das faculdades adquiridas. Somente na morte é que, livres desses corpos e no mundo espiritual, podemos então desenvolver tudo aquilo que pudemos experimentar entre o nascimento e a morte e frente ao qual, todavia, tinhamos de resignar-nos por encontrarmos limitações.
Então, quando morremos e fazemos um percurso espiritual para depois retornar em outra experiência de biografia diurna, conseguimos trazer conosco, como nossas capacidades ou incapacidades, aquilo que desenvolvemos na biografia noturna.
Na metodologia biográfica é muito importante ressaltar que:
O caráter humano é inato, mas podemos aperfeiçoá-lo, durante nossa vida, trabalhando as qualidades das almas da sensação, razão e consciência;
Conhecer as diferenças e a natureza dos 4 temperamentos nos ajuda neste processo de autoconhecimento e autoeducação;
Em cada setênio da vida, até os 42 anos, vamos ter diferentes épocas de desenvolvimento, relacionando nossos 3 corpos (físico, vital e astral) e nossas almas, o que nos dá a chance de aperfeiçoar nosso caráter e desenvolver nosso quarto corpo, o EU;
Primeiro setênio dos 0 aos 7 anos, vamos desenvolver nosso corpo físico, o qual tem conexão com a alma da consciência, que se desenvolve dos 35 aos 42 anos. Tudo de amor e alegria que a criança de primeiro setênio receber, irá fornecer forças plasmadora do corpo físico, que lá aos 35 anos, será um corpo e caráter flexível, que estará pronto para a abertura espiritual necessária da alma da consciência. O contrário pode acontecer: uma infância mas dura em aspectos afetivos pode gerar um corpo mais rígido a partir dos 35 anos, o que também acarreta num caráter fechado, rígido como o corpo.
Segundo setênio dos 7 aos 14 anos, vamos desenvolver nosso corpo vital, o qual tem conexão com a alma da razão e sentimentos, que se desenvolve dos 28 aos 35 anos. A criança de segundo setênio deve ter a influência de uma autoridade amada, boa, verdadeira e firme, para poder liberar as forças do Eu que tornam essa pessoa corajosa, confiante e com iniciativa (vontade) na vida, especialmente na fase de 28 aos 35 anos. O contrário também acontece: caso a criança não tenha essa vivência da autoridade amada e verdadeira, poderá desenvolver um Eu mais fraco, covarde, indeciso.
A partir desses pontos principais, vamos construir o esquema de espelhamento dos 21 anos:
0-7 anos - corpo físico | 35-42 anos - alma da consciência |
7-14 anos - corpo etérico/vital | 28-35 anos - alma da razão/sentimento |
14-21 anos - corpo astral | 21-28 anos - alma da sensação |
21 anos |
Quando aconselhamos um cliente, em seu processo biográfico, devemos observar as seguintes relações:
0-7 anos - corpo físico amor > corpo fisico flexível sofrimento > corpo físico rídigo | 35-42 anos - alma da consciência > alma livre, abertura para o mundo > caráter fechado, duro |
7-14 anos - corpo etérico/vital presença de autoridade amada e verdadeira > autoritarismo, castração, mentira > | 28-35 anos - alma da razão/sentimento > coragem na vida, iniciativa > covardia, indecisão pra vida, indiferente |
14-21 anos - corpo astral exemplos de ideais e entusiamo na vida > materialismo, drogas, instintos animais > | 21-28 anos - alma da sensação > conseguir executar o idealismo na vida, na realidade, motivação > desmotivação, não consegue enfrentar a vida |
21 anos |
Podemos contar com diversos processos terapêuticos para ajudar no desenvolvimento tardio das capacidades que não foram bem nutridas e desenvolvidas nos primeiros 3 setênios. Psicoterapia, terapia artística, banhos e massagens, podem auxiliar, principalmente dos 28 aos 35 anos, mas não só. E medicamentos também, caso as terapias não sejam suficientes para que o adulto chegue na alma da consciência maduro para estar livre no mundo.
CAPÍTULO 7 - O Espelhamento dos 28 anos
Neste sétimo capítulo, para falar sobre o espelhamento de 28 anos, a Dra Gudrun traz a palestra que Rudolf Steiner proferiu em 1924, no Curso de Medicina Pastoral, em Dornach, Suíça.
Steiner começa analisando a questão da hereditariedade: o que é herdado e o que não é herdado mas deve ser introduzido de outra maneira na entidade humana. O ser humano vem do mundo suprassensível com algumas características de outras vidas e também do período que antecede o nascimento, e ele adentra o mundo sensível e une estas características com aquilo que a hereditariedade está preparando para ele. Conseguimos ver isso claramente no corpo físico do primeiro setênio.
O ser humano se constitui de quatro elementos - o corpo físico, o corpo etérico, o corpo astral e o Eu, juntos, estes quatro elementos, participam da evolução e do desenvolvimento humano.
No primeiro setênio desenvolvemos o nosso corpo físico (junção do que trouxemos do cosmos com o que herdamos), até a troca dos dentes. Essa troca de dentes é um aspecto extremo daquilo que pode ser substituído na nossa materialidade. A cada 7 ou 8 anos, mais ou menos, nós renovamos a nossa substância física, até os 28 anos. Isto significa que somente nos primeiros sete anos de vida uma pessoa tem as características que são herdadas dos pais e dos antepassados, pois ela vai mudar esse corpo, usando-o como modelo. E as forças que mudam o corpo, são as forças etéricas, astrais e do Eu.
Pessoas que possuem uma natureza forte quanto a sua individualidade interior e que possuem uma forte astralidade e um forte Eu, não vão se ater a este modelo primordial, somente irão orientar-se por ele de forma genérica. Um exemplo disso é a Santa Teresa, que no décimo ano de vida assumiu uma forma bem diferente da que tinha no primeiro setênio.
Ou seja, a hereditariedade vale apenas para a primeira fase da vida.
Portanto, mais tarde na vida, quando vemos a hereditariedade se manifestar nas pessoas, na verdade estamos vendo um modelo, e este sim é herdado. É uma reprodução das características herdadas. Então aqui a gente tem uma divisão importante relacionada com a troca dos dentes/primeiro setênio: antes da troca dos dentes nós temos atuação da hereditariedade, e após este evento, temos forças que atuam de acordo com o modelo herdado.
No desenvolvimento do corpo físico, até a troca dos dentes, quem atua é o corpo etérico, formando um novo corpo físico de acordo com o modelo.
Durante os primeiros 7 anos de vida, o corpo etérico só pode receber um tipo especial de impressões do mundo exterior, que são impressões espirituais. A criança, até a troca de dentes, ela percebe toda a espiritualidade ao seu redor, pois ela ainda está conectada a este mundo espiritual, de onde veio.
Portanto, a criança percebe os elementos morais dos gestos, e absorve isso no seu corpo. Isto é, para a criança, a sensação que resulta de um estímulo sensorial é espiritual.
É a partir dessa dinâmica espiritual que ela forma seu segundo corpo de acordo com o modelo, e esse segundo corpo cresce até estar completamente presente como tal, à medida que ocorre a troca dos dentes Esse é o corpo que cada pessoa considera seu primeiro corpo, e que como corpo físico é estruturado a partir do mundo espiritual. Então, no primeiro setênio as forças suprassensíveis que envolvem a criança estão agindo na alma dela e a criança está tentando se ajustar a esse mundo físico onde ela chegou. Essa pode ser a causa de muitas doenças infantis; o ajuste que precisa ser feito entre o mundo espiritual que está ao redor da criança, e o mundo terreno onde ela está fisicamente. O corpo etérico está muito ocupado com esse processo, no primeiro setênio, e aos poucos desenvolve as capacidades que serão ressaltadas no segundo setênio.
No segundo setênio as transformações são anímicas. O corpo etérico ajuda nessa formação. De um modo geral, o Cosmos está intimamente ligado aos nossos corpos. No primeiro setênio são as forças solares que atuam (como forças etéricas), e no segundo setênio as forças lunares ( as forças astrais).
Dos 7 as 14 anos entre a troca dos dentes e a puberdade, trabalhamos com as forças lunares, formando nosso segundo corpo físico. E a partir dos 14 anos, sobram as forças astrais, que vão atuar no nosso corpo astral e anímico junto com as forças lunares. As características reprodutivas, do órgãos sexuais, que aparecem nessa fase, provém de forças lunares.
Entre a puberdade e os 21 anos formamos nosso terceiro corpo próprio, a partir do modelo com o qual nascemos, ou seja, o quarto corpo segundo a observação externa. Até os 28 anos de idades várias forças cósmicas atuam em nós: forças solares e lunares até segundo setênio, e depois o sol e a lua com as forças planetárias, e a partir dos 21 anos, as forças zodiacais. Com 28 anos vamos ter as forças planetárias atuando no âmbito anímico-espiritual (que no setênio anterior atuavam no corpo) e também atuam as constelações das estrelas fixas (forças zodiacais).
Depois disso o Universo nos abandona, em relação a forças plasmadoras e renovadoras. Aos 28 anos algumas pessoas podem até diminuir de estatura. A partir de agora nós temos que nos renovar a partir das forças solares, lunares, planetárias e zodiacais que assimilamos até então. E com essas forças que assimilamos podemos cuidar do nosso corpo físico-material. Em relação a Entidade humana, tornamo-nos pessoas autônomas na Terra.
A partir desse momento, em que estamos por nossa conta na Terra, podemos, com nossas dinâmicas internas, nos afastar ou nos aproximar de um ponto zero no tempo, entre nós e o mundo, o qual chamamos hipomoclion. É um ponto no tempo onde o mundo não atua mais e nós ainda não atuamos, um marco zero mesmo, onde tem nada.
No ponto do hipomoclion está o ponto de origem da nossa liberdade, então é possível entender a nossa responsabilidade. É um ponto de equilíbrio. Temos que observar em maior ou menor grau como esse ponto está dirigido para a juventude ou para velhice. Quando esse ponto se apresenta normal essa pessoa é plenamente livre e responsável, o indivíduo tem a capacidade de assumir liberdade e ao mesmo tempo responsabilidade.
Quando o hipomoclion se antecipa, ou seja, quando muito jovens precisamos ser responsáveis, pode ocorrer um endurecimento do corpo físico com a formação de ideias obssessivas. Quando o hipomoclion está tardio, pode ocorrer uma infantilização da pessoa, esta não conseguindo se tornar responsável e autônoma na vida.
Logo, a crise dos talentos, neste quarto setênio, tem a ver com esse ponto de hipomoclion, onde a renovação do nosso corpo, bem como de nossas estruturas anímico-espirituais não ocorrem mais pelas forças cósmicas, e sim pelo Eu, que precisa estar maduro, presente, responsável.
Desta forma temos o espelhamento dos 28 anos, onde o eixo é os 28 anos. Vamos dos 0 aos 28 anos e depois dos 28 aos 56. E neste espelhamento podemos ver o hipomoclion e dois nós lunares (respectivamente em 18,5 anos e 37,5 anos).
O hipomoclion é um ponto onde surge algo novo ligado à responsabilidade.
CAPÍTULO 8 - Os trinta anos. A idade de Cristo e maturidade para o mundo aos 35/40 anos
Antigamente, há 8 ou 9 milênios antes de Cristo, o ser humano se desenvolvia continuamente até os 30 anos, quando então ocorria uma grande metamorfose interna em seu ser, influenciando inclusive em perda de memória. Dado este fato do esquecimento, era comum nesta época antiga haverem registros biográficos, diários, para que os jovens pudessem consultar sobre sua vida anterior aos 30 anos, quando, após os 30 anos e a grande metamorfose, não se lembravam de muitas coisas sobre suas experiências e vivências de vida.
O que estava em questão era a influência das forças lunares e solares sobre o desenvolvimento do ser humano. Até os 30 anos, nosso desenvolvimento e crescimento se dava pelas forças lunares. E após os 30 anos pelas forças solares. Essas duas forças atuam de forma diferente em nós. Hoje sabemos sobre os aspectos externos das forças solares: que aquecem, que são terapêuticas, etc. Mas não podemos avaliar o que as forças solares podem fazer em nosso interno, em nosso desenvolvimento anímico-espiritual. São forças tão poderosas que nos primeiros séculos Cristãos se quis apagar o conhecimento sobre elas.
Steiner explica: "As forças lunares são aquelas que determinam o homem, permeando-o de tal maneira com sua necessidade interior que ele tem de atuar conforme seu instinto, temperamento, emoção - de acordo com sua corporalidade físico-etérica -, enquanto as forças solares são aquelas que libertam o ser humano dessa determinação, dessa necessidade."
Atualmente, essa forças se cruzam, se entrelaçam. A criança, por exemplo, támbém sobre a atuação das forças solares. E o idoso, das forças lunares. A atuação das forças entrelaçadas faz com que liberdade e determinação fiquem entrelaçadas também. Antigamente, a fase lunar e a solar eram períodos bem marcados e claros. Era como se a pessoa tivesse dois nascimentos: o primeiro era o lunar, ao nascer, e o segundo era o solar, aos 30 anos.
Importante notar que nos 3 primeiros anos de vida, ocorre o seguinte com o ser humano: no ano 1, a criança se ergue e anda, no ano 2, a criança fala, e no ano 3 a criança pensa, se chamando de "eu" pela primeira vez. Isto está relacionado com as seguintes palavras do Cristo: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida." E no segundo nascimento, após os 30 anos, temos então, os anos Crísticos, dos 30 aos 33, onde novamente o ser humano passa por esse processo dos elementos da frase de Cristo, só que desta vez com mais consciência.
As forças solares atuam de forma que nós consigamos fazer algo por nós mesmos. A consciência do ser humano de que sempre consegue se reestruturar, consegue fazer algo em si, internamente, é o que se via nas forças solares. Importante também acrescentar que na cosmovisão antiga, ainda eram consideradas as forças saturninas - que mantinham a entidade em sua totalidade após a morte e a conduziam ao mundo espiritual - no terceiro nascimento, ou seja, na morte física (terceira metaforfose terrestre).
Jesus de Nazaré reconheceu as forças solares e as acolheu, em sua corporalidade, tornando-se então Cristo. Segundo Steiner: "...no trigésimo ano, realizou-se no corpo de Jesus de Nazaré uma transformação que em tempos antigos se realizava em cada corpo humano, só que em todas as pessoas penetrava a aparência do Sol espiritual, o próprio Cristo, que se incorporou no corpo de Jesus de Nazaré, e é isto que se torna o mistério de Gólgota, resultado arquetípico que serve de base para toda a vida humana."
Ainda sobre nosso desenvolvimento biográfico, somente aos 21 anos adquirimos a maturidade suficiente para colocarmo-nos frente à realidade da vida e tornarmo-nos aprendiz da vida. Lembrando que se formos colocados de frente para a realidade dura da vida antes disso, podemos ter nossas potencialidades reprimidas. Até essa idade de 21 anos, extraímos de nossos 3 corpos (físico, etérico e astral) o que ali havia de forças formativas.
Dos 21 aos 28 anos consolidamos nosso corpo astral e nessa fase nosso julgamento passa a ter uma força de ação para nosso ambiente.
Dos 28 aos 35 anos estamos nos tornando mestre, e nosso julgamento está se aprimorando.
Aos 35 anos nosso julgamento passa a significar algo para o mundo.
A partir dessa idade, nosso corpo etérico começa a se retirar, ficamos mais densos, começamos a envelhecer nosso corpo físico também, desta forma nos abrindo mais para a espiritualidade, e por tanto, podemos ficar mais sábios. Contudo é importante que nos primeiros setênios tenhamos tido amor e alegrias, para que nessa fase da vida, essas forças possam impregnar o corpo etérico densificado. A melhor idade para trabalharmos nosso autodesenvolvimento espiritual é após os 35 anos.
Algumas pessoas vão morrer antes dos 35 anos, em função da missão delas na Terra, em relação ao que desenvolveram. Antes dos 35 anos nossas forças de desenvolvimento são de fora para dentro, e após aos 35 anos, são de dentro para fora.
Como exemplo Steiner cita uma sequência de encarnações de uma individualidade que serviou a humanidade sempre até os 35 anos de vida: Profeta Elias - século IX antes de Cristo; São João Batista - século I antes de Cristo; Pintor Rafael - 1438; Novalis - 1772.
Concluindo, cito Steiner: "Esses 35 anos de vida têm um grande significado. Até aí não se trata mais de crescimento corpóreo, mas do crescimento anímico, que começa aos 21 anos de idade. Nesse caso, realmente é preciso frisar que o que é maturidade na vida só se alcança aos 35 anos."
Próximo capítulo: 9º- O espelhamento dos 31 anos e meio
Link para o livro na Editora Antroposófica: https://www.antroposofica.com.br/prod,idproduto,36778
Ou na Estante Virtual: https://www.estantevirtual.com.br/busca?q=Bases%20Antropos%C3%B3ficas%20da%20Metodologia%20Biogr%C3%A1fica%20%28Gudrun%20Burkhard%29
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